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Mostrando postagens de abril, 2017

Um filme no meio do livro

Paul Auster às vezes descreve filmes reais, em seus livros. Em "Homem no escuro", há quatro páginas inteiras narrando "Era uma vez em Tóquio", de Ozu. Outros escritores narram filmes imaginários. Outros narram livros. Em "Breve carta para um longo adeus", Peter Handke conta sua leitura de "Grune Heinrich", de Gottfried Keller. Exercício: - Escreva 5 linhas situando seu personagem, num determinando momento de sua vida - Mencione um filme que o personagem assistiu naquela época, ou há algum tempo, mas ficou em sua memória - Narre ou descreva esse filme, em 20 linhas, do ponto de vista do personagem, destacando o que o marcou (por que o filme chamou sua atenção)

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Narração negativa

Em vez de narrar o que seu personagem fez e disse, você pode criar um efeito irônico, tenso ou comovente, narrando o que seu personagem NÃO fez e NÃO disse. Por algum acidente inesperado, o personagem não foi ao encontro marcado, não encontrou aquela pessoa que poderia ser tão especial para ele, não recebeu um beijo amoroso depois de dois anos sem ninguém, não sentiu no fim do dia uma alegria inesperada e um alívio ao ver finalmente um fim possível para sua solidão. Ou então, naquele dia, ele tinha tão pouco valor que não importa se ele se sentiu injustiçado com o quem alguém disse, não importa se ficou o dia todo remoendo aquelas palavras sem conseguir se defender, não importa se dormiu e acordou pensando nas palavras rudes que alguém falou sem dar a menor atenção ao efeito que teriam nele e as esqueceu logo depois sem imaginar que ele não conseguiria esquecer. Exercício: - Imagine uma situação muito difícil, ou muito sofrida, para seu personagem. - Imagine as reações autênticas que e...

Sobrenatural

A literatura de fantasia ou terror, em geral, usa as mesmas técnicas da narração realista. O impacto no público é justamente convencer que o mundo fantástico poderia ser real. O efeito de realidade é construído através de detalhes do ambiente e dos personagens, reunidos por uma lógica interna, o mecanismo de funcionamento daquele mundo ficcional. O público acredita na possibilidade de existência (ficcional) deste mundo, se esse mecanismo for compreensível, detalhado e coerente, dentro de sua proposta fantástica. Exercício: - Imagine um ser fantástico, que vive em seu mundo fantástico ou em nosso mundo real (um fantasma, um vampiro, um extraterrestre, um humanóide, etc) - Descreva uma cena cotidiana desse ser fantástico. Para escrever, considere se ele come, se dorme, se tem algum tipo de atividade rotineira - Em seguida, descreva o momento em que esse ser fantástico entra em contato com um ser humano comum (descreva também as características desta pessoa e da situação em que se enco...

Poema em prosa sobre um objeto

No livro "O partido das coisas", do poeta francês Francis Ponge, poemas descrevem certos objetos comuns atribuindo a eles características estranhas, que vêm de outras coisas ou pessoas. Estranhas à primeira vista, logo percebemos que as características combinam com os objetos, revelam uma outra possibilidade. Nossa percepção se amplia e traz a sensação da beleza. Alguns trechos de exemplo: DA ÁGUA (...) Poder-se-ia quase dizer que a água é louca, por causa dessa histérica necessidade de só obedecer à sua gravidade, que a possui como uma idéia fixa. O PÃO A superfície do pão é maravilhosa em primeiro lugar por causa dessa impressão quase panorâmica que dá: como se tivéssemos à nossa disposição ao alcance da mão os Alpes, o Tauro ou a Cordilheira dos Andes. (...) A LARANJA Como na esponja há na laranja uma aspiração a recobrar a compostura após ter sido submetida à prova da extração. Mas, onde a esponja é sempre bem-sucedida, a laranja nunca: pois suas células rebentaram, seu...