Café com Pão, crônica de André Cunha

Mal colocou os pés na sala, a mãe pegou o dinheiro do cofre e jogou na mesa.

‒ Compre pão, meu filho ‒ falou, sem hesitar.

Com trinta e oito anos, conhece o garoto do começo ao fim: não era mancada, ela simplesmente ficou ocupada cozinhando e limpando a casa, à espera dele, que sempre chega da escola à noite.

‒ Então, vai demorar um pouco o jantar.

‒ Compre seu pão e tome um café, eu sei que gosta.

‒ Tudo bem, mãe – respondeu o filho.

Feliz, voltou novamente a cuidar da casa, no ato de terminar rápido, para matar a fome que sente desde tarde. Era macarrão: com molho vermelho e um pouco de calabresa (será que ele vai gostar? – o filho irá dizer, quando voltar), com muito amor e carinho, o seu único desejo é um sorriso de satisfação de todos da casa.

Depois de sete minutos o garoto chegou, com uma sacola cheia de pães franceses. De repente, a mãe parou fixamente perante o fogão e se lembrou de algo.

‒ Ah, não... Filho. Esqueci de pedir a você que comprasse Coca-Cola.

‒ Poxa mãe, estou com fome ‒ respondeu, cansado e triste.

‒ Tudo bem, tome café e depois volte amanhã ao mercado, por favor.

‒ Ok, mãe.

A calma que ficou na cozinha era deslumbrante. Naquele momento chato se esperava uma discussão. A porta do quarto se abriu, o pai desceu as escadas batendo os pés, com raiva.

Ao chegar à sala, andou até a cozinha:

‒ Que merda hein, quando vai ficar pronto esse maldito jantar?

‒ Você cale essa boca, não venha se pagar de machão para o meu lado, a mãe respondeu, com raiva.

‒ Estou brincando, amor, não estou morrendo de fome.

Um clima agradável enalteceu o lar. A comida ficou pronta, após meia hora. Enquanto os pais arrumavam a mesa, o filho subiu as escadas correndo em direção ao quarto. A mãe surpresa:

‒ Ei, não vai experimentar o macarrão que fiz para você?

‒ Eu comi pão e tomei café, já é suficiente para mim. Não estou mais com fome.

Espantada, a mãe voltou à cozinha, assentou-se com o marido e ambos se alimentaram.

Passaram-se uns vinte minutos. A mãe levantou e levou os pratos até a pia, caminhou com um sorriso no rosto até a sala e se atirou no sofá.

‒ O nosso filho é fácil de criar, não é?

‒ Como assim? ‒ perguntou o pai.

‒ Ele não é enjoado, vive comendo pão. É gostoso de sustentar.

‒ Sim, mas ele só come isso.

‒ Ué, agradeça a Deus ‒ respondeu, sem se levantar.

Um silêncio surgiu na sala, e permaneceu por um bom tempo.

O relógio marcava onze e cinquenta, hora de dormir. O dia terminou bem e com alegria.

Na escada:

‒ Vou ver se nosso filho já dormiu.

‒ Tudo bem, vou deitar. Preciso acordar cedo para trabalhar.

‒ Ok, meu amor. Boa noite.

A mãe abriu a porta, devagar.

‒ Psiu... Filho, como você está? ‒ Nenhuma voz respondeu.

‒ Ei filho, acorda!

Um sacudir desesperado e violento recorreu ao garoto.

‒ Filho, por favor, acorda... Amor venha aqui, rápido!

O pai saltou da cama, correu em comando ao quarto.

‒ O que aconteceu?

‒ Nosso filho não acorda!

Chocado, o pai pegou o filho no colo.

‒ Ligue para a ambulância, depressa!

Passaram-se dez minutos, a ambulância chegou. O dia começou um horror e sem alegria.

‒ Por favor, salvem o meu menino ‒ disse a mãe, chorando.

Um clima infernal estava aterrorizando aquela família. Viam-se os pais de pijamas no hospital 24hrs, com as cabeças baixas.

Após seis e exaustas horas, um médico manifestou-se diante deles.

‒ E aí, doutor. Como está o nosso filho?

O médico com um semblante triste, respondeu:

‒ Não sei como dizer isso...

‒ Vamos doutor, nos fale logo ‒ disse o pai, com lágrimas nos olhos.

‒ Nós tentamos fazer de tudo. Mas, infelizmente ele não resistiu, foi a óbito. Sinto muito pela sua perda.

A mãe se ajoelhou no chão e chorou descontroladamente.

‒ Ai meu Deus...

‒ Mas... Qual foi a causa da morte? ‒ perguntou o pai, tremendo.

‒ Infecção estomacal! ‒ informou o doutor.

Corpos caem desmaiados sobre o chão.




A.C.

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