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Tênis do Leo

Conto de André Luiz Ferrer Domenciano Sentou-se e fechou os olhos. Ambas as mão no rosto e os cotovelos na mesa. Queria recobrar a calma antes das sete e trinta quando os alunos chegavam trazidos pelos pais e ela os recebia. Por isso, apressou-se em subir a escada naquela manhã chuvosa. Um dia que começara tumultuado no ponto de ônibus desprotegido e, depois, dentro do coletivo lotado. Um dia confuso porque, também, indispusera-se com a diretora debaixo do guarda-chuva enquanto fazia a gentileza de protegê-la até que alcançassem a marquise da escola. “Estamos conversadas?”, tinha dito a diretora. “Nada de enviar esses bilhetes sem o meu conhecimento.” A mesa da professora ficava diante da única janela da sala que olhava para fora da escola. Quando abriu os olhos, ela descobriu que a chuva amainara. O silêncio era quebrado pelo zinco sendo atingido lá fora. Uma torneira pingava do outro lado do vidro. Aqueles vinte, vinte e cinco, tinta minutos que antecediam a chegada dos alunos ...

Conto Fantástico: Exercício 1 - Linguagem

Esse exercício é inspirado no questionário de Patrícia C. Wrede, disponível em: https://www.sfwa.org/2009/08/fantasy-worldbuilding-questions/ Uma narrativa literária transmite as sensações de um mundo imaginário através de palavras. Se esse mundo é diferente do que vivemos hoje, as palavras também serão diferentes. Como as pessoas falam nesse mundo? Pense na sua história, e imagine as questões abaixo: 1 - Como se chamam os objetos e fenômenos do dia a dia? São as mesmas palavras que usamos, ou há alguma diferença? Se são palavras diferentes, qual o motivo? Por exemplo: água, comida, panelas e talheres, roupas, casa, cama, banho, malas e bolsas, veículos de transporte, objetos para escrever, aparelhos de comunicação, rua, cidade, noite, dia, chuva, calor, frio 2 - Todos os personagens falam a mesma língua? Em alguma situação, eles precisam falar línguas diferentes? Por exemplo: uma língua no trabalho, outra em família. Ou então, usar palavras em outra língua no cotidiano, como “crush”, ...

Exercício de Entrevista com a Personagem

Aprendi este exercício na oficina Blueprint Your Book, de Minal Hajratwala. E Minal o aprendeu com a escritora Gloria Anzaldúa. Para fazer o exercício, responda todas as perguntas rapidamente, sem pensar muito. Não se incomode que algumas parecem repetitivas. Responda mesmo assim, usando outras palavras. Imagine que a personagem está numa sessão de terapia e precisa se compreender e se explicar. Ao terminar a entrevista, sublinhe as ideias que você achou mais interessantes, para usar na sua história. Entrevista para personagem O que você quer? O que ou quem impede isso? O que te frustra? Como você lida com isso? Qual sua maior força? O que você precisa descobrir? Por que você acha que isso está acontecendo? Por que está acontecendo com você? Você acha que isso acontece com outras pessoas? O que te causa mais problemas? Você tem medo de não conseguir o que quer? Então o que você quer realmente? Como você vai resolver esse dilema? O que vai acontecer...

Voz própria - Entrevista com Mario Levrero

Fonte: http://brecha.com.uy/ultimas-conversaciones-con-mario-levrero/ Em setembro de 2003 Mario Levrero se propôs a escrever um livro que recebeu o nome provisório e humorístico de "Guia de Escrita para Idiotas". Este guia (que não ficou pronto) reuniria os conselhos utilizados em sua oficina literária virtual, que ele orientava junto a Gabriela Onetto. Como sua sócia morava no México, o escritor convidou um aluno de Montevideu, Cristian Arán, para gravar suas primeiras reflexões, que seriam o ponto de partida do projeto. A primeira entrevista aconteceu em 29 de janeiro de 2004. A segunda entrevista em 19 de fevereiro. Mario Levrero faleceu em 30 de agosto de 2004. A transcrição da entrevista foi realizada por Pablo Silva Olazabal. A primeira parte foi publicada nos sites The Cult e Brecha. - Por que você decidiu começar uma oficina, e estimular os outros à criação? Tive a ideia em Buenos Aires, quando parei de trabalhar na redação de revistas. Precisava ganhar a vida....

Oficina de Contos 2019

Em janeiro e fevereiro de 2019, o canal "Exercícios de Criação Literária" propõe uma oficina de contos em 3 vídeos. Na oficina, os participantes irão desenvolver seus próprios contos inéditos, desde a ideia inicial até a versão final revisada.  Serão até 4 participantes, selecionados a partir das propostas enviadas por email. A atividade é gratuita. Para se inscrever, mande sua ideia para exerciciosnarrativos@gmail.com até 22/01/19. Os participantes selecionados irão desenvolver a ideia proposta durante o mês de feveiro, como o acompanhamento por email de Sabina Anzuategui (criadora do canal). Serão duas datas para entrega dos textos em desenvolvimento: - primeiras páginas: 05/02/19 - versão final (conto completo): 19/02/19 Além das orientações por email, o canal também apresentará 3 vídeos para o público, comentando os textos desenvolvidos pelos participantes. Nesses vídeos, serão desenvolvidos alguns conceitos da criação literária: ponto de vista, personag...

Roteiro de Videoclipe

Uma proposta/argumento para videoclip é um arquivo PDF que resume sua visão do vídeo com imagens e textos descrevendo o conceito e o estilo. Não há um padrão exato. O importante é ser criativo, claro e convincente. Sugestão de Kaleb Wentzel-Fisher 1. Página de Título: Tem o nome da banda e da música. Escolher uma imagem da banda que combine com o tom que você deseja para o vídeo. 2. Resumo atraente: Explique sua visão em um ou dois parágrafos. Use palavras de efeito visual, dê detalhes marcantes, crie a imagem de como será o vídeo. Seja breve, deixe a vontade de saber mais. 3. Roteiro: Lista das cenas do vídeo, cada uma descrita em um ou dois parágrafos. Pode incluir fotos. 4. Tom / Estilo: Descreva a sensação e o visual do vídeo. Qual a técnica de filmagem? A imagem será estilizada? Qual o estilo de edição? Haverá animação? Dê referências de estilo, como filmes, pinturas, livros, estilo de celebridades ou fotos. Inclua 2 ou 3 páginas só de imagens. 5. Resumo da proposta: Em poucas fra...

O narrador amigo

Em alguns textos, o narrador é um amigo do leitor, apresentando os detalhes da história de modo fácil da acompanhar, sem rupturas ou hiatos desorientadores. Isso não significa ser excessivamente didático. Pode haver pequenas surpresas e detalhes omitidos, mas eles logo são amarrados com um argumento que surpreende e explica ao mesmo tempo (uma explicação inesperada). O texto produz uma confusão momentânea no leitor, para em seguida agradá-lo com uma surpresa. O narrador amigo pode contar a história com técnicas do humor. Na composição de piadas, os americanos falam em setup (preparação) + punch line (frase final de efeito). O setup mostra uma situação levemente esquisita (ou excessivamente banal) que vai causando certo desconforto no ouvinte, por um elemento que parece tedioso, absurdo, idiota (enfim, algo está fora de lugar). Dizem que o setup narra literalmente uma História A, mas prepara nas entrelinhas uma História B. A punch line – a frase final que dá sentido e encerra a Histór...